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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Amor e Ódio

" Fala-se muito de amor sem esclarecer que o mais próximo do amor não é a ternura, mas sim o ódio.
(...) Odiamos o outro porque nos desilude; porque nos exige reconhecer que não podemos esperar reciprocidade total; porque nos custa reconhecer que lhe fazemos e nos fazemos mal se o convertermos em objecto de uma fé cega. Odiamos ao constatar que para construir o vínculo, devemos aceitar uma certa quantidade de separação e perda. Odiamos ao darmos conta que todo o discurso amoroso é provisório, promessa que nunca se realiza da forma como a sonhámos. Odiamos porque sentimos depender de outro, que é completamente diferente de nós e cujas acções não podemos controlar. Odiamos porque nos irritam os seus gestos, a sua singularidade, tudo aquilo que não somos e que, por estar tão próximo de nós, nos conflitualiza e descentra.
(...) Para solucionar este conflito é necessário recorrer à ternura, que é um meio termo entre o amor e o ódio, ambos sentimentos muito humanos que aparecem diarimente nas nossas relações afectivas (...) Enfatizam-nos muito o aprender a amar, mas ninguem nos ensina a odiar. (...) Quando chegamos à fronteira do ódio, quando a nossa irritação está prestes a transformar-se em violência, aparece a ternura como um exorcismo social que nos ensina a conviver com seres diferentes, seres que apesar de não corresponderem por completo às nossas exigências e pedidos, nos brindam com calor e companhia, enriquecendo-nos com a sua presença. A ternura é o caminho que percorremos quando nos damos conta da falibilidade humana, da proximidade do ódio e da facilidade com que, na vida íntima, nos convertemos em sujeitos maltratantes."
in: Ética do Amor por Luís Carlos Restrepo

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